Apontamentos feitos em entrevista de Marina Abramovic

Revirando minhas anotações antigas, encontrei estes trechos feitos num dos encontros que a performer Marina Abramovic deu em São Paulo. 04/10/2006, Sesc Pinheiros, São Paulo, Brasil ...
Pintura: Queria pintar... usar tinta a óleo e um artista amigo ia comprar os materiais ... dar umas aulas... E colocou o pano no chão, sem bastidor. Jogou pigmentos de diversas cores e outras coisas e um líquido e tacou fogo.... explicou que aquilo era o por-do-sol e foi embora. Marina recolheu o que sobrou e colocou na parede... e foi viajar de férias, qdo voltou os restos estavam todos no chão... não tinha mais por do sol. Só cinzas. Se deu conta que o processo era o evento principal – um ensinamento de Yves Klein O que é performance? Muitos artistas dão muitos significados..., Performance É arte baseada no tempo. Performance: deve estar no espaço e tempo quando está sendo apresentado. Ir, se deslocar onde a performance está sendo feita. É direta - trabalha energia com o público. ´É você e eles. Tudo está acontecendo entre essas entidades´. Teatro é diferente da performance. Parte do divertimento. Performance é trabalho duro, tem que ter a concentração total do artista e do público. Artista se sente inseguro (o público pode ir embora) Vida X Arte parece melodramático... tudo que se faz na vida deve se querer 100%, deve-se ir além dos seus limites. William Blake disse: "tem que se ir além do suficiente para entender o que é o suficiente" A energia... (Marina) não consegue mais voltar à segurança do estúdio. Tem artistas que ficam longe do público, criam um produto, não tem que se confrontar. (Marina) estou livre e vulnerável a vocês! (público) Teatro é diferente da Performance. O teatro está no lugar de outra pessoa, se treina a dor e a caixa preta torna tudo diferente, o palco serve muito bem para acolher isso. Na performance, os lugares são reais, rudes. Não acontecem os efeitos teatrais. Tudo é real, tudo é realidade. Nos anos 1970, o primeiro artista da arte do corpo foi um americano. O corpo era um lugar onde as coisas aconteciam (investigação). body art. Muitas performances não eram boas... Como vender? Vender a memória da platéia? Em 1960-70´s havia pressão das galerias... Foi muito difícil naquela época. 1980´s (enciclopédia) fora? deserto... mohamed, jesus todos foram para o deserto meditar?... tibetanos falam que de manhã, quando se acorda se tem uma energia, pode gastá-la fazendo exercícios, fazendo compras no shopping... se sentar na cadeira e não fazer nada, essa energia não vai ser gasta, começa a transformar, começa a acontecer uma mudança na mente... começa a elevar a mente... Ritmo 10 - primeiro trabalho. Com som: instalação em Belgrado... falava: "vcs podem ir para o portão 1"... cada 3 minutos, tinha uma viagem imaginária. O som pode mudar o ambiente, a repetição do som se transforma em... Outra: jogo das facas entre os dedos... quando se feria, trocava de faca... + gravador (?) Ritmo 5 - passado: pais comunistas (estrela/pentagrama comunista é recorrente) restos de madeira são colocados no petróleo.. estrela pegando fogo. Corta cabelo, todas as unhas dos pés e das mãos e coloca em cada ponta da estrela para queimar e entra/deita dentro da estrela em chamas. Perdeu os sentidos e um médico na platéia a resgatou... pq a gasolina queimou o oxigênio... ficou brava com seus limites... Ritmo Zero - foi muito criticada. chamada de masoquista, que isso não era arte Levou 72 objetos para uma mesa e que o público podia manipular e usar no corpo dela. Tinha pistola com bala, algodão, rosa, vela, echarpe, chapéu, unhas, pão vinho, medalha, caneta, casaco... alguém a cortou com gilete e começou a beber o sangue... colocaram o revólver na cabeça dela. Ela era como um espelho. corpo-objeto. Estava em situação de risco (limite), mas durante aquele tempo da performance, concordava com tudo. Estava sujeita à tortura pelo público. Nesse momento surgiu seu primeiro cabelo branco... Ritual (Marina resgata até hoje o RITUAL na performance!) As pessoas têm medo da dor e medo de morrer. Ela explicita isso. Faz o público ver... o público que vê pode imaginar neles mesmos. .......... outro trabalho: escovar o cabelo com pente e escova de metal, enquanto diz: "art must be beautiful" arte distúrbio. faz perguntas e deve ter muitas respostas diferentes. Deve predizer o futuro. Relation Pieces- realizadas com o Ulay (seu companheiro). Aconteceu num estacionamento de supermercado (normal), tiraram os carros, fizeram duas colunas de material mais pesado que o corpo deles... Normalmente realizavam performances para 5 a 10 pessoas, nessa havia 1500 pessoas... gente que ia procurar seu carro no estacionamento, etc... Realizavam uma expansão no espaço. Moviam as colunas usando o corpo (corpo se chocando contra as colunas)... entende que pode usar a energia para ir além, muito mais, do que se não tivesse público. No vídeo, as imagens foram cortadas, editadas, porque a ação durou 1h e meia. ................................. outra idéia. Marina e Ulay ´são´ porta do museu (teatro) em Bolonha (Itália)... interessante a escolha que o público podia fazer, para conseguir passar entre seus corpos (tipo corredor polonês)... diziam escuza-me! ............................... outra situação: ficaram 17h na posição sentados de costas, presos pelos cabelos... ............................... gritaram até perder a voz (1h e pouco)... ficou sem falar por um mês. ............................... 1977' no escuro: corpos como tambor, se batiam. sentados um de frente para o outro, se estapeando na face, um do outro... um dos braços ficou imóvel sobre a perna. Energia (material dos 70's) era uma situação da cultura, daquele período... A performance voltou como fênix (Roselin Goldberg não fala isso???) voltou nos anos 90. Os clubes ingleses começaram a fazer, a MTV, o teatro... Vc vê muitos trabalhos que vem das performances dos anos 1970. Trabalhou com a energia do repouso... ritmo. (antes o público estava no controle, nesse momento, Ulay estava no controle) Som dos dois corações batendo. arco e flecha. Marina puxava o arco e Ulay armava a flecha, apontada para ela (no coração?) ficaram assim nessa posição de tensão... Marina adora um Drama... 12 anos juntos com Ulay. Os astronautas disseram que fora da Terra dava para ver duas coisas: as muralhas da China e as pirâmides! Essas situações foram construídas encima de linhas de energia... mudança mental ou física... as igrejas antigamente eram construídas dentro desse princípio... (Hoje colocamos tapetes?) Levou 8 anos para ter a permissão para fazer uma performance (andar) na muralha da China... foi o fim do relacionamento pessoal tb... o trabalho foi um ADEUS. Durante 3 meses cada um começou de um lado e se encontraram no meio... pareciam estranhos um pro outro... a Tv filmou esse momento... eles carregavam bandeiras... Foi importante para compreender que "não importa o que você faça..., no fim, estamos sozinhos" Aos 40 anos a dor, a depressão com a separação a paralisaram, não sabia o que ia fazer... resolveu exorcizar fazendo uma ´peça de teatro´ sobre sua vida, sua biografia... decidiu resgatar a mulher que ela era... usou batom, pintou as unhas... ser mulher artista nos anos 1970, não necessitava desses elementos... o ex-marido foi assistir com a nova namorada .... alguns anos mais nova! Marina falava e acenava no palco: Byebye confiança, byebye extremos, estar-junto, pureza... Outros trabalhos: fazer auto-cutting na barriga em forma de estrela... enquanto descrevia momentos (história) da sua vida familiar. Comer cebola, colocar serpentes diversas sobre o corpo (rosto), esqueleto do seu tamanho sobre o corpo e se movia a partir da sua respiração Final: Objetos transitórios (ametistas cristais) Energia Almofadas - você não anda, pára nelas. Minerais, humano/não humano, cabelo de virgem (coréia?), escadas que podem ser usadas, dependendo do seu estado mental!? (fogo, facas) ...................
RELEASE do EVENTO (divulgado pelo SENAC/SP): Encontro com Marina Abramovic “O SESC SP traz para o público brasileiro uma das pioneiras da performance, a artista Marina Abramovic, que virá a São Paulo para a inauguração de Balkan Erotic Epic, a sua mais recente exposição, com curadoria de Adelina von Fürstenberg, realização do Hangar Biccoca (Milão) e organização da Art of the World. A radical artista contemporânea, que pesquisava os limites físicos e mentais do corpo colocando em risco a própria vida em algumas obras, volta-se, a partir da segunda metade da década de 90 afetada pelos conflitos dos Bálcãs, sua terra de origem (Belgrado, Iugoslávia, 1946), para as questões da Sérvia e Montenegro, realizando a obra que lhe rendeu o Leão de Ouro em Veneza, Balkan Baroque (1997). “A dor de seu retorno a um lar despedaçado pela guerra, talvez tenha sido mais difícil de suportar do que, puramente, a dor física que sofreu em suas performances anteriores”, afirma a curadora. Balkan Erotic Epic (2005) é parte da grande retrospectiva, Balkan Epic, apresentada pela primeira vez em janeiro de 2006, no Hangar Biccoca, em Milão. Em Balkan Epic, a cultura pagã da região balcânica é foco central da investigação de Abramovic. A mostra revela como o erotismo, por meio de rituais descobertos pela artista em manuscritos dos séculos 14, 15, 16 e início do 19, estava profundamente enraizado na cultura sérvia desde os tempos medievais. Esses textos apontam como os órgãos sexuais – femininos e masculinos – representavam para os camponeses instrumentos de cura, de prevenção de doenças, de fertilidade, uma forma de comunicação com os Deuses. “Pensei que seria bem interessante encenar estes rituais que nunca foram encenados anteriormente - existem apenas descrições - para compreender como os observamos atualmente, e tentar conectar este entendimento bastante primordial da sexualidade à compreensão atual”, ressalta Abramovic. Balkan Erotic Epic é formada por uma instalação de sete vídeos, nos quais a artista retoma os antigos rituais pagãos sob um olhar contemporâneo. Há homens vestidos em trajes tradicionais, com ereção, olhando para a câmera. “São imagens que falam de orgulho nacional, energia muscular e energia sexual, como uma causa para a guerra, para desastres, mas também para o amor”, assinala. Há homens copulando com a terra, como se fossem amantes, mulheres massageando os seios enquanto contemplam o céu, encharcadas pela chuva, cobertas de lama, com a vagina abertamente exposta para a terra. Na abertura da exposição, durante a palestra da artista (tradução simultânea), às 20h, no teatro do SESC Pinheiros, será apresentado o Making of Balkan Erotic Epic, um filme documentário (vídeo, 31’, sérvio/inglês, legenda em inglês) realizado pelo cineasta brasileiro Richard Haber (Columbia University)”.