LONGO percurso

Delito 4 (1990/1999)

Quarta-feira fui à abertura da exposição ' 7 pecados capitais + 92 delitos veniais' da artista Dora Longo Bahia, na Galeria Leme. http://www.galerialeme.com/
À tarde liguei para várias pessoas, pra saber quem iria... mas, não rolou - uns não atenderam à ligação, outros já tinham programa agendado.

Eu queria muito ir... o problema (que no final, não foi tão problemático assim) é que a Leme fica do outro lado da Marginal Pinheiros, uma região pesadinha, cheia de avenidas bifurcadas, difícil de andar a pé e sozinha à noite... eu só havia ido pra lá de carona!
Mas tou sempre pronta pra ser surpreendida pela cidade e sabia que o ônibus Cohab/Rodovia Raposo Tavares passava pelo Shopping Eldorado e cruzava a Marginal... então já era!
Havia muito congestionamento para as 20h, depois soube que naquela tarde, ocorreu outro problema na construção do metrô/Pinheiros.
Sempre que ando pela Rebouças X Faria Lima, me sinto pisando em casca de ovos!

Desci no primeiro ponto depois da ponte da Marginal, não lembrava o nome da rua, mas entre ônibus enfileirados, o Jóquei e duas avenidas, optei por uma e fui...
Dobrei a esquina e perguntei a um taxista, se sabia de uma galeria de arte na região, ele não sabia... na verdade, acho que não sabia o que era uma galeria de arte, porque me indicou um depósito de filmagens... taH é parecido.
Continuei na rua escura, porque sabia que estava perto e... caí noutra avenida em reformas e com saída para um viaduto...
Do boteco de esquina, podia ouvir um ziriguidum coletivo...
Segui a menina de mochila, que atravessou a avenida correndo. Ela foi na direção da USP, eu peguei a direita e entrei noutra rua escura.
A região é cheia de motéis baratos e garotas de programa, ou melhor, travestis.
No meio da quadra, uma delas arrumava a bolsa. Parei pra perguntar... ela/ele levou um susto! Eu ri. Falei da Galeria e essa sim soube me mandar pro lugar certo: 'Segue por essa rua, dobra à direita, na esquina tem um barzinho e o lugar que Vc procura fica em frente".
Perfeito. Grande trava!

As pinturas de Dora eram figurativas e datavam do começo dos 90'. As grandes dimensões, muito preto com dourado e a ambiência sacra me fezeram lembrar da fase 'Jan Van Eyck' dos artistas gaúchos Telmo Lannes e Rogério Nazari, que no final dos 80', pintavam à quatro mãos.
Não foi difícil saber quem era a artista! Eu havia levado o livro 'Escalpo Carioca & Outras Canções' pra ela autografar... mas chegando lá, achei que não procedia. Não fosse pelo Beto /montador da Galeria/segurança(?) não conhecia ninguém, acho que estou mal acostumada com a Galeria Vermelho... tomei uma coca-cola. Olhei as pinturas e o livro com desenhos e pinturas à ouro com bmuita atenção e... me decidi por pedir o autógrafo.

Pintura da série Canções de Amor no Tempo do Rock
É que, além do design gráfico maravilhoso, o livro tinha outra história:
estava eu na biblioteca da Escola São Paulo e dei de cara com o livro 1/2fanzine, editado pela Dora: sem lombada, sem capa, com costura aparente, folhas em tamanhos diferentes e fotos de trabalhos lindos (pinturas sobre papelão, fotos de instalações, vídeos, cartazes... tudo já exposto no CCBB) e material das bandas DiskPutas e Verafisher (da artista). Puro punkrockstyle.

Verafisher Zine com diagramação de Dora.

Fisher integrantes. Dora é baixista.
Fui até o CCBB, mas na lojinha ninguém sabia do livro. Na Livraria Cultura, o único exemplar disponível estava na loja de Recife... fiz a encomenda e peguei o livro uma semana depois. Então, tinha ou não que pegar um autógrafo?
Dora achou que me conhecia da música!? falamos do livro, de Porto Alegre, do Mestrado (dela e meu). Ela agradeceu. Eu agradeci.
Saí da Galeria por um caminho mais fácil, pelo motel... hehe. Quando passava na frente, uma trava entrava num táxi...

Se nas pinturas de Dora havia a mesma frase, suspensa e protegida por anjos:
'Cuidado Deus observa', na Avenida, um outdoor (como a lei dos outdoors não foi aplicada alí?) em letras garrafais dizia: 'Deus é fiel. Ama a todos seus filhos'.