Uma noite com Yoko



Durou mais ou menos 1h, o show-performance que a artista Yoko Ono (1933) fez quinta à noite no Theatro Municipal de São Paulo.
O teatro não estava cheio. No começo da semana, algumas pessoas comentaram que os ingressos já estavam esgotados.
No entanto, discretos cambistas circularam pelas escadarias do teatro, e muitos lugares sobraram, assim, pude ficar num lugar bem melhor do que eu havia comprado.
Entre as celebridas presentes estavam: a artista plástica Tomie Ohtake, o arquiteto Ruy Ohtake, a sócia da Galeria Vermelho Eliana Finkelstein, o jornalista e Dj Jackson Araújo e o músico Supla.

Na entrada, ganhava-se uma lanterninha com a palavra ‘ONOCHORD’ escrita em caixa-alta e um postal com orientações de uso do objeto com instruções de luz.

No bar, escoltadas pela escultura ‘modigliânica’ de Victor Becheret, as pessoas bebiam espumante, vinho, cerveja e beliscavam coisinhas gostosas, num ritual para entrar em sintonia com o prédio glamouroso.

No palco, os elementos que construíram as cenas eram: fotos, ‘movies’ em projeções gigantes, back-light de Yoko criança (e seu espírito infantil onipresente), músicos fazendo a trilha ao vivo, espécie de futon coberto com tapete, moldura de espelho para corpo inteiro, sem espelho, instalada sobre o futon, cadeira de madeira, tabuleiro de xadrez branco, iluminado, sem marcações de espaço e com peças brancas colocadas em posição inicial de jogo.

Yoko entrou vestida de terno, chapéu e sapatos brancos, look parecido ao que John Lennon usou na capa do disco Abbey Road. [Super anos 70 e extremamente ‘up-to-date’].
Fez um demi-strip-tease e jogou roupas e chapéu no chão. Por baixo, usava uma roupinha preta.
Cruzou o palco, subiu no futon, atravessou o espelho e tirou o sapato.
Brincou com a cadeira, mais ou menos como uma criança faria.
A performance estava estruturada em aparecimentos/ações/desaparecimentos.
O entra e sai de Yoko foi sempre pelo mesmo lado e seu posicionamento no palco era, mais ou menos, no mesmo lugar.
Ela criou melodias gritadas (sua 'marca registrada', agora bem menos selvagem e estridente do que na clássica participação de 1968, no The Rolling Stones Rock&Roll Circus).
Recitou poesia em pé, no chão e do backstage. Também cantou com sua voz jovem, linda e suave.
Chutou o tabuleiro de xadrez (mais tarde jogou as peças para a platéia). Surgiu mascarada, conduzida por um assistente e trocou de roupas+acessórios, tudo em p&b.
Yoko encerrou a função enrolada em boá branco, sambando!
É claro, que todo mundo gritou e acompanhou a batucada com palmas.
Por fim, ela ia e vinha no palco sem saber o que fazer... a não-ação foi fofa.
Então, retirou o tapete e ‘se jogou’ de bruços no futon, para mandar as últimas mensagens.
O público aplaudiu e assoviou muito ao final de cada ação.
Fomos bem calorosos com ela.
Agora, o que mais me interessou, foram duas aparições de Yoko rastejante embalada em tecido semitransparente.
A-gra-de-ço muito por estas ´vinhetas´, YOKO! Vou usá-las como referência, no meu projeto de Mestrado em Design, por lembrar o modo como a moradora de rua que estudo 'se instala' na Avenida Paulista.

O público nas galerias permanceu apoiado, languidamente, nas grades e todos brincaram de piscar a lanterninha que não foi solicitada na performance, mas virou tarefa de casa, como ação e mensagem contínua.
ONOCHORD é para ser enviada aos indivíduos: ‘EU TE AMO! I LOVE YOU!’
Dessa forma: EU=i, TE=ii, AMO=iii, sendo i, uma piscada de luz (que pode ainda ser enviada por escrito ou com o uso de isqueiros).

E por falar em luz, dia 10 de outubro, para celebrar o 67 aniversário de John Lennon, Yoko inaugurou uma torre de luz - ‘Imagine Peace’ http://www.imaginepeace.com/, no porto de Reykjavik na Islândia.
Era inevitável não pensar em John Lennon no meio daquilo tudo. Não pelos momentos explícitos, quando Yoko deitou no chào e repetiu ‘I miss U’ ou quando uma foto de família (Lennon, Yoko e o filho Sean) apareceu e desapareceu lentamente entre uma imagem de vegetação ao som de pássaros, mas algo a mais ficou no ar.
É..., tem uma questão histórica + a construção da mídia em torno dos dois + o mito-escudo que Yoko usa para manter viva a imagem de John, atuando como intérprete das suas idéias..., mas a presença de Yoko ainda está atrelada à de John.
Será que isto tudo se transformou no seu projeto de artista?

Uma coisa estranha aconteceu enquanto eu fotografava a performance. Cliquei a foto de John Lennon em família e no lugar da imagem apareceu a mensagem: El archivo no contiene datos de imagen!!!!!!!!!!!!!!!!!!!?
Ok,
só que isso nunca ocorreu, desde que comprei a câmera.

Outra referência saudosista dos 70' apareceu no ‘movie’ com imagens manipuladas de uma passeata de jovens.
Mas nada ficou pesado ou datado.
Fiquei feliz de ter participado desse momento.

Yoko trabalha com arte desde os anos 50 e além desta performance, apresenta em São Paulo filmes, fotos, objetos, entre outras arteirices, na exposição 'Yoko Ono - uma retrospectiva', que acontece no CCBB, deste final de semana até fevereiro de 2008.