Numa bolha em movimento pelo ar chileno

Memória e cor me fazem lembrar de uma viagem que fiz em 1984:
Cruzei o espaço aéreo chileno, numa rota Santiago - Cordilheira do Andes - Porto Alegre/Brasil.
Do avião eu podia ver a paisagem ampla e homogênea em marrom, pontuada por lagos luminosos azuis.
Eram ilhas-poça translúcidas, cercadas de terras áridas. De dentro da água, emergiam pontiagudos blocos de gelo, que apontavam para o céu ou para o que estivesse acima deles.
Esses icebergs de bases brancas e profundas, faziam o azul da água mudar verticalmente de tom e projetavam sua luz no espaço ao redor.
A imagem natural, ao mesmo tempo gelada e quente, apesar de pequenina (já que vista do alto) era esplendorosa e incitava a uma aproximação.
Meus olhos já estavam esteticamente seduzidos e minha vontade era de ignorar o abismo e deixar que a gravidade levasse, também,
meu corpo para lá...