Quem não procura, acha... depois perde e assim vai

São Paulo tem um lado imprevisível e interessante: o dos encontros casuais, rizomáticos com pessoas que você não imagina que existam.
Falo das trocas instantâneas, avulsas, cuja chance de acontecer outras vezes é mínima, mesmo que se deixe um email ou se guarde o número de um telefone.
São as pessoas-cruzamento, que assim como vêm, vão.
Deste modo, cada esquina se transforma numa surpresa, num portal [mesmo que de malucos].
Antes de morar aqui, um amigo me disse: para encontrarmos alguém é preciso querer muito, porque a cidade nos engole.
Na época achei estranho, mas agora posso dizer que a metáfora do 'buraco negro', aqui é real.
Já postei alguns exemplos disto, como o bate-papo animado sobre arte, moda e rock no ônibus Santo Amaro/Princesa Isabel, com uma fonoaudióloga desconhecida.
Tem coisas que devem permanecer em trânsito!
Seriam os lugares móveis e os pontos aleatórios e improváveis em estado de encontro-e-desencontro, uma heterotopia de Foucault, hoje?
Msn e Skype seriam os lugares correspondentes no mundo virtual?
Mais de uma vez, achei um objeto na rua, usei, mas depois de algum tempo ele se perdeu, foi esquecido em algum lugar público, sumiu...
Quando isso acontece, penso que outra pessoa o encontrou e o ciclo recomeçou.
Divago nas possíveis trajetórias destes achados&perdidos, das coisas que não pertencem a ninguém...
Pensar nas pessoas que cruzam o nosso caminho é mais estranho, porque você pode ouvir ou contar a história de uma vida, mas quando a sua 'senha' ou a da pessoa for chamada, deu. Já foi.
Ações e comportamentos fugazes...
Hoje encontrei uma senhorinha muito alegre, de cabelos curtos e cor lilás, olhos azuis e sobrancelha desenhada a la Dietrich.
E amanhã?
(~_*)
* Horas depois me dei conta que:
Baudelaire se sensibilizou com uma passante, que virou a esquina e se mimetizou na multidão... a filósofa Olgaria Matos já falou sobre isto > superficialidade e qualidade do tempo, num Programa da TV Cultura/SP. (16/07/07) e citou Walter Benjamin para dizer que 'Não temos tempo para viver todas as experiências...'