Passarela à la Dickens

i luv Life 1 - No primeiro dia de SPFW eu tinha convite, mas fui pra aula. Aplicada?! Nem tanto... Estou com vários artigos pra entregar...

i luv Life 2 - De volta pra casa, uma colega perguntou se eu não queria tomar uma sopinha na casa dela. Aceitei. Rapidinho preparou sopa de mandioquinha e pães com molho de tomate e queijo. Tudo estava uma delícia que perguntei a marca da sopa. Vergonha! Era natural.
Isso explica o sabor e minha pergunta é sintoma de que estou consumindo muito produto industrializado.

i luv Life 3 - (Centro, 23h) Na roleta do terminal de ônibus Princesa Isabel, uma moça de cabelo curto carregava uma criança sobre os ombros e um cobertor de lã xadrez cobria seus corpos. Dessa forma unidas e sobrepostas, elas lembravam um totem canadense ou da ilha de Páscoa.
É claro que quando me viu, veio falando sei lá o quê.
Eu disse (pra variar) que estava sem dinheiro, mas que ia dividir umas moedas com ela.
Enquanto revirava a bolsa ela me perguntou: - Você é indigente de rua?
- Não, sou professora.
(Ah, sobre meu look indigente: jeans reto azul lavado de velho mesmo, bota cowboy em couro preto e trechos de piton camuflado por spray preto, casaco de lã anos 90 com ombreira da Benetton, vestido-camisetão da Amp com estampa imitando desenho com fita crepe e lenço palestino roxo no pescoço... algumas mechas de cabelo ainda estavam em forma de rabo, os olhos deveriam estar com o kajal preto vencido e escorrido e a 'cara de louca', cansada de passar o dia tossindo. Ô alergia!).
Catei R$1 e entreguei.
Ela abriu um sorriso sem dentes e disse:
- Legal, gatinha!
(bem melhor do que o que tive que ouvir nesta semana dos assessores de imprensa do SPFW: Sorry, gata!)
Nos afastamos e eu gritei: - Legal a criança encima de você!
Já longe, ela respondeu:
- Ei, abra seu coração!

É, eu sei (pensei).
E os olhos verteram...

i luv Life 4 - Noutra esquina, um jovem catador de lixo subia a rua de um jeito relaxado: empurrava o carrinho cheio de papelão, de costas.
Como assim?
Ao invés de ficar de frente para a rua, ele estava de frente pro carrinho, com as costas apoiadas no puxador e andando a passos lentos para trás.
Quando atravessei a rua na diagonal, disse:
- Vai demorar pra chegar, hein?
E ele com seu chapéu australiano de cordinha sob o queixo e muito zen respondeu:
- Mas chega... Fé em Deus!