I can see for miles and miles...

Assisti o filme Reflexo da Inocência e gostei de relembrar situações, sensações, roupas e músicas dos anos 70, década em que passei da infância pra adolescência.
Mas uma cena em especial conseguiu apagar uma estranheza de comportamento que vagava como fantasma na minha memória.
A cena: A menina glam leva o protagonista (Daniel Craig) para sua casa maravilhosa, o maquia e cria uma crista espetada com sua franja, empresta um casaco dourado, coloca no toca-disco Brian Ferry, ensina o menino a dançar como dançavam os backings vocals de Brian e dubla o refrão da música.
Meu fantasma: Por volta de 1975 eu colocava no toca-disco um disco do The Who, chamava minha irmã e uma amiga inseparável e dublávamos Roger Daltrey, Pete Townsend e Keith Moon, respectivamente nesta ordem. Ninguém queria ser John Entwistle, assim que, não tínhamos baixista.
Nos divertíamos com nossos microfone, guitarra e bateria invisíveis e caprichávamos nas performances. Era preciso conhecer muito bem cada integrante para fazermos todos seus movimentos e na hora certa...
A performance nos transformava em superstars, nos permitia 'vestir', incorporar nossos ídolos. Aquela banda imaginária (The Who Cover) nos unia, a música nos representava e nos dava poder.
Mais tarde, eu achava que éramos malucas, Mods domésticas ou nerds do período, whatever,
Só que em tempos de cosplay, guitar hero e videoclipes sem instrumentos, onde atitude, imagem e diversão é o que vale, comecei a desconfiar que não éramos tão sem noção assim.
A cena do filme reorganizou o meu passado e me fez ver que o que acontecia ali, na 'nossa inocência', é que sentíamos a música profundamente e isso fortificava nossas jovens existências.
Esse é o poder da Música. E também do cinema.