sliding by mazes of the big city

São Paulo roots, antes da chuva (again): apoiada na grade da varanda, sinto passar a fumaça de incenso que acabei de acender dentro da casa. Por entre as plantas, vejo a movimentação dos lixeiros na rua, enquanto Caleb Followill canta um wowhohohoh rouco no meu ouvido. Uma lágrima escorre do olho esquerdo, de alívio do stress do dia. Enquanto penso que consegui fazer a minha parte, a luz laranja do caminhão de lixo ainda pisca, na curva da rua, à direita.

big city: Voltei do supermercado com um pacote de açúcar orgânico(?!), uma caixa de leite integral pra pingar no ‘vaso’ de líquido negro quente que adoro tomar de manhã e à noite (estou reduzindo...), um pacote de ravióli com recheio de ricota e ervas finas e outro de casquinhas libanesas, que nada mais é do que o pão sírio (do beirute) torrado e despedaçado.
Ao passar pelo sobrado numa esquina da rua Domingos de Morais dei 'hello' à imensa cabeça de Tutancâmon, pintada de dourado e azul na parede.
E descobri que, no meio da quadra, tem uma garagem transformada em pizzaria italiana com forno à lenha.
Costumo andar pelo lado esquerdo da rua (the wild side!?), pois algo sempre me chama a atenção.
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Outro dia encontrei um senhor 'new orleans' magro, negro, vestindo calça e terno de alfaiataria preto, sentado no degrau de loja com suas tralhas e um case de violão.
Achei raro e engatei um papo... perguntei se morava na rua e o que música ele tocava no violão. Ele disse que ficou desempregado e que andava na rua, mas era difícil circular com tudo aquilo, pois não tinha onde guardar...
Ele perguntou o que eu ouvia, eu disse que gostava de rock (um tipo de som primitivo! li isso em algum lugar), ele falou que ‘essas coisas aí’ ele não sabia tocar...
Eu perguntei o que ele tocava: samba? sertanejo?
Ele não disse nada, tirou o violão preto de dentro do case e arranhou uns acordes não identificáveis estilisticamente. Claro que depois me pediu uma ajuda e eu dei. Achei legal que ele não estava na rua sozinho, estava acompanhdo da música..., de arte.
Religuei meu mp3 e também segui acompanhada pelo resto do caminho.
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Voltando à pizzaria: Perguntei pro casal que atendia se serviam no local ou era só delivery. Eles responderam que serviam ali, sim.
Larguei as sacolas do super na cadeira e olhei o cardápio, tinha uma seção de sabores chamada Quatro Estações.
Lembrei de Londres!
Pedi uma Quatro Estações/primavera: camada fina de mozarela light, manjericão fresco e tomates secos. Ok e uma cervejinha pra acompanhar.
Hoje eu merecia um agrado e cerveja é pra isso, pra festejar! Eu acho.
Enquanto eu me deliciava com os carboidratos, com os delicados temperos italianos e a cevada gelada, um jovem homem passou apressado na rua, olhando pro relógio. Vestia uma tee, bermuda, tênis e parecia fazer exercícios na quadra.
Imediatamente me desloquei da cena e pensei na riqueza desses mini-mundos pessoais, vivendo quase o mesmo espaço, de maneiras diferentes.
É isso o que é viver numa big city...