um loft no underground e alguma invisibilidade

imagem: Avenida Consolação e adjacências sem luz.
Eu queria visitar a Galeria Vermelho que ficava para aqueles lados, e ver o novo prédio do complexo artístico, concebido pelo Hector Zamora.
Resolvi dar voltas na quadra. Perguntei pros policiais do posto móvel o que, realmente, havia acontecido com a luz do bairro... Eles responderam que, nada de grave, apenas um imprevisto causado pela chuva.
Entrei numa Farmácia pra experimentar perfumes...
Na Paulista, encontrei um amigo argentino que também queria ir pra Vermelho e esperava a luz voltar.
Resolvi jantar um pedaço de pizza na Bela Paulista. Lá, instantaneamente, me apaixonei por um balconista com as sobrancelhas, cuidadosamente, desenhadas!
A pessoa era tão andrógina que eu fiquei procurando evidências masculinas e femininas...
Não tinha barba.
Não tinha seios, isso não quer dizer muito, eu quase não tenho seios!
Ele (sim, era ele) me lembrava alguém. Enquanto eu comia, rastrei na memória imagens de pessoas... Kate Moss? não. Audrey Hepburn, humn, pode ser...
Descobri. Seu rosto era uma fusão de Audrey Hepburn com Santiago Nazarian. Incrível, né?
Então, fiquei disturbed. Até esqueci o cardigan (herança do meu pai) no banco, mas um menino muito fofo, que havia sentado no balcão ao meu lado foi até o caixa me entregar!
Previlegiada, again.

Na rua, encontrei outro amigo artista... e as luzes pro lado da Vermelho ainda estavam apagadas.
Resolvemos tomar um café e falar de arte na rede... Ele faz mestrado nesta área na USP e aproveitei pra tirar dúvidas sobre meu projeto: vestimenta e tecnologia.

Na saída, a cidade havia voltado ao seu normal-artificial: tudo iluminado!
and we went to the gallery...

O projeto e a execução da nova casa estão incríveis! Tem muitos lugares para explorar..., alguns espaços tem acesso apenas por barras de metal na parede... tipo escada de emergência (brincadeira de meninos!) No pátio, dois caras tocavam ao vivo baixo e bateria e quebravam tudo. Mais: muita gente fofa e eu, ainda, com alguma sensação de invisibilidade.

Voltei pra casa de metrô, na saída da estação Vila Mariana lembrei que estava sem água e escolhi usar a máquina de bebidas a comprar no boteco lotado de gente do outro lado da rua.
Coloquei uma nota de dois reais e a garrafa caiu.
Repeti o procedimento, mas a água sem gás havia terminado... recolhi as moedas devolvidas e apertei um outro número... a máquina devolveu um real e anunciou que eu tinha um real de crédito.
Re-inseri a moeda e nada! Ela voltou. Resolvi colocar uma nota de um real, que também voltou. Apertei o número de um produto qualquer que custava o valor do crédito... e nada.
Acho que fiquei uns cinco minutos lutando contra aquele replicante de balconista e caixa.
Respirei fundo e recomecei a função. Ufa! deu certo e ainda consegui exatamente o que queria, mais uma garrafa de água sem gás!
Fiquei feliz por não ter desistido, afinal ia deixar a máquina com crédito! me achei esperta.
Cruzei o corredor e quando me aproximei da escada rolante, um jovem e lindo morador de rua me aguardava... Como estava com o mp3 no volume máximo, não ouvi o que ele dizia, mas fazia sinal para eu parar... Sacodi a cabeça e disse que não dava... Ele estendeu a mão e eu, com as duas garrafas de água gelada, passei uma pra ele.
Pisei na escada rolante e fui. Quando cheguei no topo, olhei pra baixo e ele estava lá, apoiado no corrimão, tomando a água e com a cabeça curva, me olhando!

outra imagem: o fantasminha homeless mordendo um prédio. pintura de Jim Avignon
música: TOO REAL - Black Rebel motorcycle Club.
palavra: AR (i need some air, again)