aquele que tem a pele escura está vivendo 'Da bondade de Estranhos'

Maurício, Mauro ou Maurílio são nomes que derivam e tem como significado: 'mouros ou aqueles que vieram da Mauritânia'- região a noroeste da África, perto do deserto do Saara. Talvez por isso, nas listas de significados de nomes, indicam aqueles que tem a pele escura.
Toda essa ladainha é pra falar de um artista e stylist que admiro muito: Maurício Ianês - uma pessoa linda, criativa, simples e muito atenciosa.
Acompanho seus projetos de performance, em especial os desenvolvidos na Galeria Vermelho, que o representa.
Seus trabalhos se destacam pela disponibilidade, que prefiro chamar de 'sacrifícios' já que o artista testa sua resistência, seus limites em relação ao tempo (zona morta) e ao espaço (o mensageiro). De alguma forma isso me faz lembrar de performances mais antigas de Marina Abramovic, como aquela em que ela e Ulay, com o peso e impulso de seus corpos, empurram paredes num estacionamento de supermercado ou, ainda, a que eles perdem a voz de tanto gritar um com o outro.
Ao acessar o blog de Ricardo Oliveiros você encontra uma bela clipagem das performances de Ianês, com muitas fotos.
E a pele escura?
É verdade que ele já cobriu o corpo com purpurina dourada, com fita-tape preta, mas outro tipo de performance que ele desenvolve no seu corpo são as tatuagens maori... Ele se construiu, substituiu a pele clara por áreas de cor preta. Acredito que o significado do seu nome e as tattoos sejam apenas uma coincidência.

Maurício Ianês está 'em performance' na Bienal. Entrou nu, sem objetos, sem mantimentos e está vivendo da 'Bondade de Estranhos' para se alimentar, vestir e estar por 15 dias naquele prédio inóspito arquitetado por Niemayer.
Nesses momentos se reavalia o que realmente tem importância para se viver e estar em sociedade.
Ianês, que também desenvolve trabalhos no mundo da moda, está vulnerável aos valores e estilos dos outros e à bondade, ou melhor, à disponibilidade do outro de interagir com ele.
Assim, através deste trabalho, aquele que deixou sua pele escura agora está testando o biológico e o social (o outro). O exercício de desprendimento, explicita nele (pois se transforma em filtro ou espelho) os hábitos e valores materiais dos outros, enfim, da sociedade. Também dialoga com o vazio da Bienal, tão coerente!
Ainda estou pensando o que levar que tenha relevância para quem se propôs a 'viver' de arte, até porque, agora, ele já tem comida, água - tipo, o básico.
Amor, quem sabe. Contato físico... Posso levar meu abraço e alguns beijos, essas coisas super necessárias, que precisamos desde que nascemos.
Adoro o Maurício.
Adooro!
Foto retirada do G1, com link acima: 'em performance'.

Clipe relacionado. THE YOLKS - os meninos são franceses, mas cantam em inglês, preste atenção na letra, tudo a ver: