The Dream to Reality

Nos anos noventa, rolou uma conversa em Porto Alegre, que o rebelde e lindo ator estadunidense River Phoenix (1970-1993) havia passado, anonimamente, um ou dois dias na cidade.
PoA tem muitos garotos rebeldes, bonitos e cheios de estilo e, justamente por isso, River poderia ter passado despercebido.
A continuação da história é que ele havia levado para Los Angeles uma fita k7 (ahamn) com músicas das novíssimas bandas da cidade.
Esta é uma prática comum no mundo da música independente e River tinha com a irmã (Rain Phoenix) a banda de rock 'Aleka's Attic'.

No começo daquela década, minha banda The Plastic Dream havia ganho destaque na mídia: foi eleita banda revelação de 1991, tinha músicas tocando nas rádios alternativas e comerciais, dava entrevistas em fanzines, revistas, jornais e programas de tevê, inclusive, participou do MTV banda Antes. Fazia parte da coletânea em vinil Assim na Terra como no Céu, produzida por Wander Wilder, tinha muitos fans e fazia shows com lotação esgotada.
Enfim, a Plastic era uma das bandas da vez e, por isso, foi parar no K7 que River, supostamente, levou pra California.

Sabendo desta história, eu alimentava um fetiche: que, como amigo e frequentador da boate Viper Room de Johnny Deep, o gato tivesse tido tempo de mostrar a fitinha pro Deep e este ouvido a minha voz (rarara). [Phoenix morreu de overdose na frente do lugar, um ano depois]

Mas isto era lenda (or dream) até a semana passada, porque na segunda-feira, um diretor de cinema, amigo e aficionado por REM, clipou uma matéria no jornal Zero Hora (RS), contando a tal história e estendendo as possibilidades da audição do material para os ouvidos de Michael Stipe (REM).
Um luxo! Que me deixou bem feliz.
A seguir, trecho da matéria: Segunda 12/08/96 ZH, pág.08

A angústia de Midas
Michael Stipe fala sobre os dramas do sucesso e dos planos de tocar em Porto Alegre
FABIANO GOLGO

Michael Stipe está jogado numa poltrona de veludo azul-marinho na ampla sala de sua casa de estilo vitoriano, construída na década de 20, em Athens - e com seus 70 anos evidentes nas várias camadas de pintura descascadas. O líder do R.E.M. é um dos maiores ídolos da música pop contemporânea. Modern rock, como prefere falar. Ele diz que o estilo de suas composições amadureceu com os anos de estrada que o grupo enfrentou. Anos que forçaram o R.E.M. a perceber a vida de um pedestal que a fama e o dinheiro proporcionam. Michael, Bill Berry, Peter Buck e Mick Mills agora sabem que tudo não passa de uma ilusão criada por uma indústria que vende pessoas como se fossem divinas.
Michael nasceu e foi criado em Athens, pequena cidade da Geórgia. A mídia o tentou transformar em Deus do Olimpo da Atenas americana. "Mas mitos não passam de mitos", diz ele. "Pobres daqueles que passam a se enxergar pelos olhos dos fãs", complementa, lamentando que tenha se deixado levar pelo sucesso por uns dois anos. E continua: "A queda me trouxe a realidade". Que queda? o R.E.M. faz sucesso ininterrupto desde o lançamento do álbum Out of Time, que continha os hits Losing my Religion e Shiny Happy People. Michael explica: "Me vi encurralado por não ter ninguém que pudesse se apaixonar por mim, o verdadeiro Michael. Era o astro de rock que estava indo para a cama, não o homem que precisava de um relacionamento de verdade, como qualquer outro de sangue vermelho no planeta."
Os rumos do R.E.M. estão sendo mudados pela angústia de se sentir com o toque de Midas, segundo Michael. "A incapacidade de ter que lutar por alguma coisa nos deixou frustados, afinal, temos instintos de caça, não somos hienas que comem presa já abatida", afirma o vocalista.
Defensor feroz dos direitos dos animais e ativista atuante na luta contra os abusos dos seres humanos, Michael era grande amigo do ator River Phoenix, morto em 1993 e igualmente ligado a causas do gênero. Através de River, o vocalista do R.E.M. conhece algumas coisas de Porto Alegre. O ator veio ao Brasil para participar da Eco 92 e ficou durante dois dias na capital gaúcha. Colecionador de fitas demo de todo o mundo, Michael já ouviu algumas bandas de rock do Rio Grande do Sul, como Justa Causa, Pére Lachaise, Plastic Dream, De Falla (estas numa fita que lhe foi dada de presente pela irmã de River, Rain Phoenix, hoje backing vocalista do Red Hot Chili Peppers) e Doiseu Mimdoisema (numa fita obtida mais recentemente). O vocalista afirma que gostaria muito de tocar em Porto Alegre, e inclusive sugere o nome do Doiseu Mimdoisema para abrir o show. "Mas isto depende de nosso empresário fechar alguma data em Buenos Aires".

Obs: hoje, o jornalista Fabiano Golgo mora e trabalha em Praga.