mal-estar e escaping to out of space

se ............ Suzana Avelar, na banca de defesa de doutorado da Cristiane Mesquita disse que o objeto de estudo - Jardelina, virou um 'encosto' para ela e Rosane Preciosa declarou que, ao contrário, ficava muito animada, eu caí em depressão. Não exatamente pela Jardelina e suas construções vestíveis (que pra mim é instigante e lembra Cindy Sherman, só que num mini-mundo espontâneo), mas por ouvir aquela constelação de pessoas inteligentes! Além das já citadas, Suely Rolnik, Peter Pál Pelbart (leve, descolado e com seus exemplos tão surpreeendentes que beiram a ficção) e Norvall Baitello (meio frágil e, por momentos, escorregadio na burocracia).
De volta à Preciosa... ela, como sempre, se comportou como um tornado... suave, mas devastador em alegria e (ratificando o nome) preciosidades. se Deleuze & Guatari vêem problemas na idéia do nome próprio, Preciosa parece provar outra coisa, que o nome próprio pode funcionar como estandarte ou anúncio do que vem por ali... também poderia usar o exemplo do platô, pra dizer que ela vibra sobre ela mesma e faz conexões pra tudo que é lado, tripudiando na prática, com sua fala, a incorporação de todas estas teorias.

Vou ter que dar um desconto pra minha depressão e pra sensação de ‘ignorância’(ignorância = a ignorar coisas), pelo estado pós-parto a fórceps de um capítulo da dissertação, em que me encontro, justamente pra tentar falar de autores como Foucault e Deleuze & Guatari, que segundo Peter Pál, são figurinhas-fáceis em todas as teses de Mestrado.
Eles foram territorializados.
Argh! voltou meu mal-estar e a vontade de vomitar (senti o mesmo, um dia depois de entregar o material para qualificação na Universidade e avisei minha orientadora sobre a sensação de ter feito um trabalho datado).
Mas como desterritorializá-los?
Se não usá-los para tratar do contemporâneo, quem poderia ajudar?
(ler mais Sheakespeare e começar a consumir revistas de skate talvez fosse uma boa idéia... preciso de coisas novas)

Naquele momento, meu estômago estava vazio e um sangramento estranho me acompanhava desde domingo (menstruação? mas se eu uso medicação pra não menstruar...?! o fórceps?) e meu emocional estava uma rede esgarçada.

Saí do prédio novo da PUC, que tinha a mesma ambiência de um hospital ou de um estacionamento de carros vertical: rampas e corredores amplos demais, luz esverdeada e estética genérica. Peguei um táxi.
O trajeto pelo Sumaré incluiu o contorno de um cemitério.
Ali na esquina em declive da Av. Major Nathanael, ficamos (eu e o taxista) esperando o engarrafamento de final de tarde de sexta se resolver.
O táxi era branco, a parede do cemitério era branca e até uma antiga placa da avenida, pregada na parede do cemitério, havia sido pintada de branco. As letras volumosas e os contornos se sobressaíam como fantasmas: corpos gráficos mortos.
Horrível isso.
Mais uma vez a explicação do ritornelo: a musiquinha saindo dos headfones ajudou a me estabilizar e não me deixou chorar.
...Rock&Roll me estragando outra vez! Teria sido melhor chorar.
Um jovem executivo subiu a avenida em direção à Dr. Arnaldo, com seu terno preto, bem cortado e uma maletinha na mão.
Nos olhamos por um tempo. Por quê?
Minha imagem, colada à janela do táxi, deveria estar bem freak: olhar fixo, que não se incomodava com a luz do fim do dia, entrando direto nos olhos.
De minha parte, pensei nas pessoas que nunca vamos conhecer, porque não temos nada pra trocar, elas vão passar, não vamos ver ou vamos olhar e não vamos saber quem são, porque não queremos saber quem são (o executivo pode ter pensado o mesmo de mim). Rapidamente lembrei das pessoas que insistem num contato, parecem interessantes, mas deixamos passar, porque não queremos também (isso tá ficando meio inorgânico). Já as que queremos, também passam.

Me senti mais idiota, fora de qualquer coisa... cansada de ser si (isso foi citado pelo Peter na defesa, fui procurar como livro, mas não encontrei... é uma nova banda?)
Se eu sumisse do planeta, naquele momento com todos os meus sonhos, o que ficaria de mim?
Acho que este foi o sentimento de 'aproximação da morte' que, noutro dia, o professor de cinema da UAM se referiu, que acomete pessoas com mais de 40 anos. Então, eu estava visualizando os contornos da morte?
Este foi um f*ano pra mim, bom e ruim na mesma medida..., não sei nem como avaliar.

Um pouco depois, cheguei à Paulista com Augusta (meu lugar de mutação) e me acalmei. É estranho, é alí que me realizo nesta cidade. É cruzando a avenida que vivencio o sex appeal da grande metrópole, porque me sinto em qualquer lugar. Às vezes me sinto num filme... heterotopia? ou simplesmente uma válvula de escape capitalística?

Enfim, no final da noite até esbocei um sorriso, quando vi a lua crescente através de um telescópio.
Naquele ponto, uns caras costumam instalar um telescópio e disponibilizar aos passantes a visão de fenômenos astronômicos interessantes, como eclipses, lua cheia, aproximações de planetas.
Sempre presto atenção na lua e na movimentação do céu, mas nesta sexta, ela estava especialmente linda e branca, como a parede do cemitério, a placa de avenida coberta, só que mais positiva.
A face porosa, texturada mostrava suas depressões... que eram de natureza diferente da minha depressão, eram crateras como mares - coisa de humanos, batizar a geografia dos lugares com nome de sentimentos e ainda fazer projetações subjetivas.
O fato é que a imagem em close da lua me jogou pra cima, mostrou que existe algo além deste planeta.
Ela e outros astros (também estavam por perto, Vênus e Júpiter), às vezes, são suficientes pra se pensar no espaço como brecha e esquecer um pouco nossa ignorância, e o Deleuze e o Guattari ponto.