pra ler em silêncio

apaguei as luzes do estúdio.
deixei a pesada cortina que cobre a porta de vidro aberta pra, da cama, ver a chuva cair lá fora.
desliguei o laptop pra ouvir todos sons e ruídos.
os pingos se comportavam de modo diferente, eram vulneráveis aos obstáculos que encontravam:
do toldo, saltavam grossos e ritmados na vertical.
nos cabos e fios da rua, deslizavam como se estivessem numa via de trânsito intenso... os mais rápidos atropelavam os demais. no encontro formavam uma gota luminosa e despencavam.
algumas não iam até o chão, pulavam para um fio abaixo e seguiam horizontalmente seus caminhos como notas musicais. imagem de música ao som da chuva.
nos cabos mais grossos e nas grades da sacada, as gotas demoravam mais tempo pra cair.
inchavam tanto - o limite era imprevisível, que se precipitavam criando um splash no chão.
algumas gotas se jogavam contra o vidro da porta e, rapidamente, se transformavam em poças no chão.
as folhas das inúmeras plantas vibravam, mais limpas e lustrosas, a cada pingo.
no grande espaço sem plantas, sem fios, sem toldos, sem construções ou outros obstáculos, a água (pixelada) formava uma camada que mudava a opacidade da paisagem.
os trovões reverberaram pela cidade, revelando cantos longínquos.
mas sempre acho que a melhor parte da tempestade são os relâmpagos que criam, nos surpreendendo com sua luz em flash.
água. energia. eletricidade. luz espontânea.
[desde às 18h, chove forte em São Paulo]