Barrabás na Augusta - parte II

Eu disse pra Barrabás que não era punk, mas saí do show do John Spencer e Matt Verta-Ray no Studio SP com um flyer da festa 'BAILE PUNK' na mão.
Mas ele não viu, eu escondi.
Enquanto eu caminhava com passos firmes e cara de paisagem, ele cumprimentava todo mundo na rua... um leão de chácara de boate, um catador de lixo em serviço, um varredor de rua em ação...
Eu achei que era pra me mostrar que estava em casa, que era o 'dono da rua'.
Só que eu também me sentia 'em casa' e apostei no meu discurso ensaiado:
- Ô meu, não tenho grana, sou professora.
Enquanto ele resmungava alguma coisa, eu pensava como ia sair daquela situação, estava sem dinheiro pra pegar um taxi (tinha pago o ingresso com cash e pensava subir até a Paulista pra pegar mais algum no 24h do BB).
Barrabás parecia irado e estava a fim de me apavorar.
Não era bom olhar pra ele, tinha os olhos vermelhos e uma energia muito ruim.
Então eu olhava pra frente. Ele entrou no meu ritmo (acelerado) de caminhar, me xingou com a voz cada vez mais baixa e começou a se aproximar demais de mim.
Foi quando a rua fez uma curva e o posto de gasolina com lojinha da Peixoto Gomide apareceu.
Relaxei, atravessei a rua, lentamente e na diagonal.
Barabás esbravejou: - Vaai e me compra alguma coisa!
A atendente que estava na porta me olhou, fiz uma careta, tipo, ai me livra dessa coisa!? [só que nos episódios do seriado de tevê Twilight Zone as lojinhas de postos de gasolina também eram portais de outra dimensão e do maior terror]
Não olhei pra ele, baixei a cabeça e disse:
- Vamos ver se dá! vou comprar água pra mim..., o que Vc quer?
Ele foi direto ao frizer.
A atendente da lojinha colou e chamou a atenção dele, porque suas mochilas e sacos estavam derrubando as coisas das prateiras.
Ele apontou pra uma lata de refrigerante em especial. Eu peguei.
Ele pediu mais uma... Não falei nada, nem olhei. Lancei a outra lata na mão dele. Praguejando alguma coisa, Barrabás deu as costas e sumiu.
Expliquei pra moça desde onde ele estava me acompanhando, peguei minha água com gas e paguei tudo no cartão.
Fiquei um pouco por ali, com os olhos bem abertos e não acreditei que ele realmente tinha me deixado.
Subi a Augusta até a Av. Paulista aliviada e achei engraçado que Barrabás bebe PEPSI.

Barrabás é um ladrão e assassino que aparece no Novo Testamento e tem seu caminho cruzado com Jesus de Nazaré. Na história, o governador Poncio Pilatos mobiliza o povo de Jerusalém com a pergunta quem deveria ser libertado: Jesus ou Barrabás e o povo escolhe o ladrão.