doce cotidiano

Ontem eu vi Saturno - o planeta que está sobre nossas cabeças agora, bem perto da lua crescente.

Como aconteceu outras vezes, na Av. Paulista perto da R. Augusta, uma fila de pessoas se formou para olhar nas lunetas.
Atrás de mim, depois, ao meu lado, uma menina nos seus 17 anos, com cabelo loiro em rabo de cavalo, óculos de grau e mochila estava radiante por ter visto a lua de perto. - É muito linda! É um sonho antigo, dizia ela.
Depois me contou que estava ansiosa pra ver Saturno. Nem precisava, seu corpo inquieto, saltitante e o sorriso diziam tudo.
Quando pensei em deixá-la passar na minha frente, ela foi indo... Eu gostei.
Em seguida, se virou e continuou falando da sua emoção em ver tudo ‘ao vivo’. Já tinha visto em revistas, tevê e web, mas nunca havia ido ao planetário.
Perguntei de onde ela era... Ela disse que era daqui de São Paulo, mesmo, mas que era meio feliz assim... Eu achei ótimo tanta empolgação.

Encostado a uma parede do Conjunto Nacional, acompanhando a movimentação astronômica, estava um homem negro, alto, magro e cego.
Achei aquele contraponto forte, triste - estavamos em uma ação que privilegiava a visão! Mas quem sou eu para avaliar isso? Ele parecia ok, ‘sentindo’, ouvindo o que acontecia no entorno.
Pensei como ele, realmente, estava preso a este planeta...
Mas será? Será que não ‘vê’ Saturno e a lua de um jeito que desconheço? Justamente ao estar, assim, 'entre' a função?

Quando chegou a minha vez de usar a luneta, vi um astro minúsculo com os anéis em diagonal. O astrônomo perguntou se eu vi umas 'orelhinhas' ?!?. Ao redor, estava Titan, uma de suas luas brilhantes.
Nos meus headfones tocava Phoenix, mas quando pensei em colocar os óculos pra ver outros detalhes, havia passado o meu tempo. Tinha mais gente ansiosa atrás de mim.

Uma coisa feliz, depois de outra coisa feliz...

Antes disso, eu havia visto o filme ‘Simplesmente feliz’ do diretor Mike Leigh e me achei beeem normal.
Polly, a protagonista, era dez vezes mais dispersiva, caótica e espaçosa do que eu.
No filme, os personagens tem vida simples, lidam com seu cotidiano e isso é tudo. Precisam de muito pouco para se divertirem, estão presentes, vivendo um dia após o outro.
O filme é meio neo-hippie (inclusive o figurino), meio Amelie Poulain em Londres, meio sweety Poliana, onde o que interessa é ser feliz e fazer os outros encontrarem alguma felicidade.
Num certo momento, Polly faz uma pergunta à amiga: - Onde estão os good boys?
Isso acontece sem amargura, sem peso... A amiga responde que eles existem, só não tem coragem... ÓOooh.
A garota ‘se dá bem’no final... hmnn, o final não é um final, é mais um meio.