EM VOZ ALTA na Travessa do FALA-SÓ (por Marion Velasco)
Se não dá pra fotografar..., não acabou a visão, a audição, o olfato, o tato. E eu falo:
Uma pena de pássaro tenta levantar voo da pedra. O musgo a agarra.
[Há, à frente, uma grossa corrente]
O vento a ajuda a trocar de lugar.
Passarinhos pulam na pedra inclinada.
A beira do Tejo, hoje, está marrom.
O sol desce nas costas da cidade.
A pena muda de lugar, outra vez... E de direção.
[É verão. Amanhã, volto pro inverno]
As ondas batem (em partes, em estéreo?) na praia construída.
[Atrás de mim > as vozes de dois africanos (um, de headphone branco). À esquerda, nos autofalantes do bar à beira-rio > toca um violão flamenco. Ruídos das rodas de um carrinho de bebê, de bicicletas, de sapatos sobre as pedras da calçada]
O musgo verde é vivo. É marrom. É tapete. Agora, um plástico saltita sobre ele - mais rápido que a pena, não se deixa prender.
“Do Tejo se parte para o mundo”. O mundo entra pelo Tejo e... pelo ar.
As águas chegam dobradas, fazem espuma nas bordas. Infinitamente, respondem onda À onda.
[Agora, são os chinelos (atrás de mim), os africanos... O reggae, nos alto-falantes do bar]
Calor! Espero a lua cheia aparecer.
:
Uma leve brisa! Tontura da mistura do vinho além Tejo, ginginha e panaché.
[Uma voz masculina (americana, metálica) reverbera pela ribeira: - Yeah, yeah... oh! Yeah]
A garota a sua frente, de preto, posa como a pequena sereia de Copenhagen.
:
Os prédios do Bairro Alto ofuscam o sol. Tudo se move – vem e vai. A lua cheia apareceu sobre a rosada camada de poluição.
:
Tem uma coisa aqui, no fim do dia...: são os reflexos de sol que aparecem nos prédios em lugares improváveis, Uns nos outros, nas ruas. Reflexos de vidro? Dos azulejos? E as sombras?
Um rapaz passa com o texto na tee-shirt > SAILING CLOSE THE WIND. sailing close the Wind. Tudo bem, tudo bom..., tudo bem tudo bom..., tudbemtudbom – responde o bondinho.